sou peladeiro, mestiço, brasileiro

nascido no vale encantado do marmeleiro,
bem ao sul,
terreno fértil,
arroz, trigo e campo extenso
para lida de gado.

lugarejo que não aprendeu a crescer,
indiferente à sofisticação e às mazelas do progresso.

via-se ao longe capões,
ovelhas,
e um rio cortando a paisagem.
ao cair da tarde
trabalhadores reuniam-se no bar
e trocavam palavras
e jogavam cartas
passando pelo tempo
que se arrastava.

velhas senhoras
varriam o pátio
e lavavam roupa.

uma bola de pano,
um gramado
e alguns
guris peladeiros,
mestiços,
brasileiros.

ficava ali,
calção rasgado
e nariz escorrendo,
olhando aquele mundo
e querendo entender
onde encaixaria
naquela história.